A história é um domínio de todas as dimensões: do espaço e do tempo. É construída no presente, retrata o passado e projeta um futuro, mas nem sempre essa projeção condiz com a realidade. Porque não se conta o futuro. O futuro se constrói. E nessa copa das confederações... A história já parecia contada, antes mesmo de acontecer Brasil x Espanha na final. O Brasil chegou lá, mas o seu suposto adversário ficou pelo caminho, dando espaço para EUA, aquele que ninguém acreditava que passaria, ao menos, da primeira fase. Ninguém acreditava também, que além de chegar à final, eles terminariam o primeiro tempo ganhando por 2x0 os pentacampeões do mundo. Aqueles que costumam construir a história a seu modo, independentemente da história dos outros, roubavam a cena Mas na história do futebol, há um elemento que escapa do espaço e do tempo, (ainda que não escape da história): a camiseta! E a amarela, de cinco estrelas, pôs as coisas no seu devido lugar Devolvendo a história à sua dimensão No futebol, pelo menos nele… No, they didn`t can!
O Brasil voltará a sediar uma copa do mundo 64 anos depois do “Maracanaço”, como ficou conhecida a final de 1950 quando 200 mil pessoas testemunharam a derrota brasileira frente ao Uruguai, o que foi, seguramente a maior tragédia da nossa história futebolística.
Para a copa de 2014, no entanto, a temível tragédia começa desde o momento do anuncio do Brasil como sede oficial: a de que os recursos públicos corram pelo ralo da corrupção em desvios de verbas, superfaturamentos e, na melhor das hipóteses, em obras milionárias que não proporcionarão o devido retorno aos investimentos feitos em sua construção.
Este mês, foram anunciadas as cidades-sede e os respectivos estádios que serão palco dos jogos de 2014. Dentre as 12 cidades escolhidas, pelo menos nove devem usar dinheiro público para construir estádios, o que contradiz a enfática declaração no ano passado, do Sr. Ricardo Teixeira, presidente da Confederação brasileira de futebol, de que a copa do mundo seria totalmente realizada com recursos privados.
Muitos estádios novos serão construídos, ou em terrenos desocupados ou sobre os escombros estruturais e históricos de outros. Em Recife, por exemplo, será construído um estádio totalmente novo dentro de um complexo criado para o mundial, chamado de Cidade da copa, com shopping center, conjuntos residenciais e local para eventos. A dúvida é que utilidade terá esse estádio depois que passar o mês de competição, no pequeno município de São Raimundo, enquanto cada um dos três clubes importantes de Pernambuco já possui seus próprios estádios e que, pelo menos dois deles, poderiam ser reformados para a copa.
Poderiam... Se não fosse inevitável a obrigação de cumprir, à risca, cada uma das “recomendações” da entidade máxima do futebol. Afinal é preciso encher os olhos dos patrocinadores e proporcionar um grande espetáculo televisivo. E, para isso, segundo o critério daqueles que “recomendam” é imperativo construir estádios padronizados para todo o mundo, como se a cultura não fosse um componente essencial na arquitetura.
Em Manaus, onde nenhum clube joga, ao menos, a terceira divisão do campeonato nacional, e que em clássicos não é incomum um público de 150 pessoas, será construído um Vivaldão totalmente novo sobre o atual, que será demolido. O valor da obra, custeado pelo governo local, será de 500 milhões de reais, mais ou menos uns 5 hospitais de médio porte, equipados com salas cirúrgicas, UTI e tomografia computadorizada. Levando em consideração que, no Brasil, os custos finais geralmente são bem maiores que os anunciados inicialmente (vide o exemplo do PAN do Rio, onde os valores gastos foram, pelo menos, o triplo do orçamento inicial), calculemos uns 8 hospitais, mais ou menos.
Na linha do “Ninho de pássaro”, estádio ícone das olimpíadas de Pequim do ano passado, o novo Vivaldão fará alusão, em sua forma, a palhas e texturas de pele de répteis. É o Brasil mostrando um pouco da identidade amazônica – através de um escritório de arquitetura alemão (assim como em Natal). Nada mais coerente, afinal o modelo de estádio, estabelecido pelas exigências padronizadoras da FIFA, tem muito mais a ver com a Alemanha que com o Brasil.
Em Cuiabá, somente o gramado do Verdão será aproveitado. Uns “4 hospitais” serão investidos, com dinheiro público, claro.
Enquanto isso a FIFA já fechou todos os contratos de patrocínio possíveis para o mundial de 2014. Um valor em torno de 2 bilhões de dólares que o Brasil não verá, sequer, a cor. Antes, ele será usado para, dentre outras coisas, financiar as viagens dos cartolas e suas hospedagens em hotéis de luxo. Ou seja, o povo brasileiro paga a conta, mas quem bebe são eles.
Por falar em beber... Abramos um parêntese:
Uma das boas noticias no cenário de realização da copa no Brasil, é que uma velha conhecida dos estádios brasileiros voltará a aparecer: a boa e velha cerveja gelada. Se o trabalhador tupiniquim terá condições financeiras de tomá-la ou, pelo menos, de entrar no estádio, já é outra história...
Os problemas estruturais da educação e segurança pública, assim como as desigualdades sociais voltam a ser os responsáveis pela geração de violência nos estádios de futebol, imaginem que disparate! O consumo de bebidas alcoólicas foi inocentado no tribunal da FIFA. O fato de um dos seus principais patrocinadores ser uma companhia de bebidas, certamente não tem nada a ver com isso...
Fecha parêntese...
É bem verdade que a realização da copa não se limita a construção de estádios.O Brasil deve passar, nos próximos 5 anos, por uma grande reestruturação da infra-estrutura de suas cidades, pelo menos das que sediarão o mundial. Aeroportos, vias de tráfego e transporte público devem ser modernizados e terem seus serviços expandidos. O turismo deve crescer, empregos diretos e indiretos devem ser criados etc.
É verdade também que é possível que, através de parcerias, cheguem recursos externos para contribuir com esse processo. Mas a dúvida persiste: o resultado da equação configurada pelo que vamos pagar e o que vamos ter de benefícios será realmente positivo ou mais um espetáculo de pirotecnia política?
Será a realização de uma copa do mundo, o segundo maior evento esportivo do mundo, uma oportunidade de desenvolvimento para a nação brasileira ou de enriquecimento ilícito dos líderes políticos?
Não se sabe...
A nós, cabe transferir para a esfera social o que já é parte da cultura do futebol: exigir!
Exigir transparência nas contas, objetividade no emprego de recursos e responsabilidade social para que, ao final da copa do mundo, a conquista de uma taça de campeão não seja o máximo que tenhamos a comemorar.
Estou fazendo um mestrado na Espanha, e por isso, durante um determinado período, estarei postando mais na seção "viajando, viajando"... onde contarei um pouco das minhas experiências aqui, do outro lado do mundo. Embora não goste de escrever em primeira pessoa, não há como contar certas coisas sem fazê-lo assim.
Espero que leiam, e curtam... qualquer coisa é só comentar!
Atenção: Os textos da seção "Por que" e "De onde veio" são frutos de uma brincadeira entre amigos que tem o objetivo de responder questões intrigantes (ou completamente desprezíveis) misturando fatos com criações de pseudo-argumentos. Então, se liguem! Se alguém puser no google algum tema e achar este blog e colocar num trabalho da escola como fonte "crtl c" "ctrl v" vai se dar mal... ou então... de repente a professora acredita em você... Quem sabe...