A festa de inauguração do novo viaduto, em mangabeiras, teve a presença de políticos, industriais, polícia, construtores, puxas-saco, ajeitadores de gravata alheia e muita redundância. Claro, não podia faltar, numa festa, salgadinhos, refrigerantes e bolas, mas o bolo, este quem levou foi o povo, pois na cerimônia de inauguração teve de tudo, menos inauguração.
A obra, tratada como uma epopéia Homérica (e, digamos a verdade: mais parece uma obra lírica com o Almeida e sua Lira, ops, sanfona), se arrasta por mais algum tempo, fazendo a população amargar os transtornos infindáveis de bloqueios, desvios, placas, cimento, pedra e todo o resto em nome do desenvolvimento.
Após inúmeros adiamentos no prazo de entrega da obrada e muitos quilômetros de engarrafamento acumulados, a inauguração só inaugurou mesmo o nome do viaduto.
Graciliano Ramos, grande poeta e escritor alagoano, foi o homenageado. Ao menos tiveram o bom senso de escolher um nome decente e representativo para nomear a menina dos olhos da prefeitura municipal.
Digo isto, na tentativa de me convencer de que o nome que vi encabeçando o viaduto tenha sido mera ilusão de ótica...
Não pode ser...
Temos Jorge de Lima, Hermeto Pascoal, Arthur Ramos, Aurélio Buarque de Holanda, Zumbi dos Palmares...
Mas infelizmente, sou obrigado a me corrigir...
O viaduto não recebeu o nome de alguma destas figuras, agora percebo, em nome da coerência. O mais perfeito coroamento, a cereja no bolo que o povo levou não podia ser outra. O nome do viaduto, meus caros, não podia ser outro além do que lhe foi dado. Afinal, honestamente, nunca se fez tanto.
A obra, desde a primeira martelada, se fez infinita. Primeiro pelos transtornos no trânsito que provocou. Depois, pelo benefício que trará para o fluxo de veículos até que o aumento da frota peça mais três ou quatro viadutos e que o transporte público se torne mais um em alguma lista de espécies em extinção. E por fim, na imagem do nome, atuando como um filme repetido de sessão da tarde, que teremos que engolir todas as vezes que passarmos por ali.
Só nos resta agora engolir o detentor do privilégio de ter o nome imortalizado em um equipamento urbano público fazer campanha política levando a televisão a entrevistar Joãos sem casa, propagandeando que, além de tudo, criou embaixo do SEU viaduto moradias populares.
Já consigo visualizar nas paredes destas moradias uma Lira poética do forrozeiro, mais ou menos assim:
Do interior à capital, um povo partira
Pois lá não tinha comida nem casas
Agora vive, dignamente, embaixo das asas
Do viaduto municipal João da Lyra.
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