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quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Para que tantos milhoes de pixels?



A incômoda situação de ter um jogo de Champions league prestes a acontecer a 14 km de onde estava e não poder ir já até havia passado, quando um diálogo na tarde de 25 de novembro se iniciou:

- Alejandro, recebeu meu e-mail? Disse eu
- Recebi, mas não pude responder!
- Mas, e aí, voce consegue comprar ingresso mais barato pro jogo?

(O jogo entre Villareal x Manchester United aconteceria neste dia, e o ingresso mais barato que havia encontrado tinha sido no valor de 100 Euros, mas Alejandro, um mexicano, é sócio do Villareal e pensei que talvez ele pudesse comprar para mim mais barato do que isso)

- Não, não consigo, mas... Meu filho está doente, e sempre vou com ele... Então eu também não vou hoje, vou deixar para ir na segunda fase, sendo assim, eu te dou meu cartão de sócio e você vai no meu lugar...

Bem, não é muito fácil para mim dizer o que senti nesta hora... Mas as palavras que o mexicano me falava soavam como o mais perfeito português, era capaz de entender qualquer coisa que ele dissesse mesmo que fosse um trava línguas dentre os mais difíceis de um longínquo pueblo de alguma antiga civilização Maia... Soava como a mais perfeita música, como uma orquestra perfeitamente afinada. Aquelas palavras eram tão fascinantes que quase vejo o mexicano com um batom vermelho, de cabelos compridos e com um sinal negro sobre o lábio superior.

- Agora você vai ter que sair antes da aula acabar, já que o jogo começa às 20:45 e a aula só acaba às 21:00...

Mal sabia ele que eu poderia deixar uma noiva no altar... Quanto mais uma professora...

Depois, ainda advertiu:
- vá bem agasalhado, lá faz muito frio!

Agradeci por avisar, porém não imaginava que mais tarde o estaria xingando

Segurei o cartão em minhas mãos e o coloquei em meu bolso como segurei a primeira nota de cem que vi na minha vida, quando tinha uns 15 anos (mas esta não foi pro meu bolso, infelizmente)

Agradeci com um sorriso que mal podia controlar e olhei para a professora, quando vi uma cena estranha, ela movia a boca sem parar, abria e fechava, gesticulava, mas não saia nem um som, olhava em volta e as pessoas prestavam atenção na aula e achei estranho ninguém comentar a súbita mudez da interlocutora.

De repente, a voz voltou, mas segui sem entender nada, e assim fiquei ate que as pessoas começaram a se levantar e formar grupos, era uma dinâmica... Aproveitei a brecha e disse ao mexicano que ia embora, passaria no apto para por uma roupa e pegar um dinheiro.

Pus duas calças, uma meia de Lá até o joelho, luvas, duas camisas (sendo uma de manga comprida, um agasalho e um casaco (deveria ter posto todos). Olhei o cartão como se fosse uma pedra preciosa, o virei para olhar o verso e lá estava escrito: “este cartão é pessoal e intransferível, podendo inclusive ser exigido o documento nacional de identidade para comprovar a titularidade nas entradas dos estádios”... virei de novo para olhar sua frente (que era bem mais interessante) engoli seco, o guardei no bolso e então marchei rumo à estação de trem.

La chegando, encontro vários grupos de ingleses, o trem sai e logo chega a Villa real, são 10 minutos de viagem. Ao parar na estação, alguns ingleses ameaçam não descer, pois não entendiam o anuncio: “próxima parada: Villa real” – que não entendessem o “próxima parada” vá lá, mas Villa real?? Um espanhol os adverte: “VILLAREAL”, aí sim, eles entendem... e no final, quem ficou sem entender fui eu.

Este mesmo espanhol foi a quem perguntei onde ficava o estádio e ele me disse que estava indo para lá e que poderia acompanhá-lo. Perfeito! Perguntei sobre trens de volta para Castellon e ele me disse que não haveria mais quando jogo acabasse, nem tampouco ônibus. Eu teria que pegar um taxi (cerca de 25 euros)... mas a volta não me preocupava, já diria meu amigo filósofo fumacinha: “pra voltar todo santo ajuda!” (e eu nem acredito em santos, mas se eles me ajudassem eu aceitaria).

Quanto mais nos aproximávamos do estádio mais se podia ouvir os gritos... Dos ingleses, os visitantes. Chegamos, o espanhol me indicou por onde entrar e nos despedimos. Procurei a entrada e fiquei observando algumas pessoas entrarem para ver como se passava o cartão, pois eu não podia deixar parecer que era a primeira vez que estava indo ali, não poderia ser sócio e estar indo pela primeira vez ao estádio e, portanto, desconhecer quais os procedimentos para entrar, pois já aconteceram vários jogos nesta temporada. E, caso desse algum problema e algum funcionário do clube viesse falar comigo alem de achar estranho desconhecer como se fazia para entrar ainda perceberiam o sotaque e daí para pedir o DNI era um pulo.

Comecei a imaginar as desculpas que poderia dar caso isto acontecesse. Pensei se diria que o titular tinha me emprestado (desta forma eu me livraria, talvez, e ele perderia os direitos de sócios), pensei em dizer que tinha achado o cartão (daí eu iria para alguma sala, em algum lugar do estádio ou seria mandado pra fora e o cartão ficaria recolhido), e por ultimo pensei em dizer que tinha pego de um amigo sem ele saber, e esta seria a pior de todas as desculpas, pois iria parar numa delegacia, sem passaporte e tendo cometido um furto, e logo depois num aeroporto, rumo à terra dos Marechais... Logo, esta foi descartada. Elegi a alternativa do meio como provável desculpa...

Observei duas ou três pessoas entrarem e lá fui eu em direção as catracas de entrada. Não era complicado, havia uma máquina com leitor de código de barras, era só posicionar o cartão embaixo, a luz verde acendia e você passava.

Pego o cartão, posiciono, espero...

E nada de luz verde... Viro de lado mexo o cartão... E nada de luz verde... Através da minha visão periférica, vejo uma mulher se aproximar, com uma roupa chamativa, cor verde-limao, característica de todos os profissionais da segurança, e da infra estrutura e controle urbano (incluindo policiais). Nem ousei virar o rosto e enquanto rezava para a tal luz verde aparecer, a mulher chega perto, e diz:

- Perdón...

Toma o cartão da minha mao, me olha no rosto (enquanto isso eu já me imagino falando pro Mexicano no dia seguinte: “recolheram teu cartão”, e isto, na melhor das hipóteses).

Aqueles segundos parecem ter durado mais do que os 90 e tantos minutos da partida

A tal funcionaria então passa o cartão pela catraca e, finalmente, a tal luzinha verde se acende...

- Podéis pasar
- Gracias!
...

El Madrigal. Este sim um belo estádio! Pequeno e aconchegante, com uma visão perfeita do campo, iluminação, acessos, espaços de circulação, gramado, arquibancadas, cadeiras, separações entre setores, tribunas... Tudo na mais absoluta perfeição... Só não é totalmente coberto, como recomenda a FIFA, mas do que importa? Se conselho fosse bom...

Observo cuidadosamente cada detalhe, cada som, cada manifestação... mal podia acreditar que estava em uma partida do campeonato de futebol de clubes mais importante do mundo, há quem diga que seja mais importante até do que copas do mundo de seleções, e dentro de certos aspectos, realmente o é.

Somente um aficionado por futebol e por toda a magia que o cerca pode entender o que senti.
Havia um certo burburinho que Cristiano Ronaldo, considerado atualmente como o melhor jogador do mundo, não iria jogar devido a uma suposta contusão... O clima fica tenso... não seria a mesma coisa... Mas não demora para o telão do estádio anunciar as escalações e acabar com as tensões que existiam neste sentido. Lá estava o nome do português.

Entram os jogadores do Manchester em campo e começa o desfile dos craques, dos milhões e milhões de euros que formam aquela constelação. Algum tempo depois entra o time da casa, mais modesto, mas também muito perigoso, e, neste momento começa a tocar uma música muito alta, provavelmente a mesma que toca em todas as entradas do Villareal e, acreditem se quiser, a musica era: “Olha a nega do cabelo duro, que não gosta de pentear...”. Em espanhol, claro, provavelmente a versão original da música que, agora descobria, era uma tradução para o português.

Depois deste espetáculo, me lembro do aviso do Mexicano sobre a questão do frio, e agora, sinto vontade de xingá-lo, pois ele disse que fazia muito frio, mas não que fazia muito, muito, mas muito frio! A arquibancada alta, somada às cadeiras descobertas e a um inconveniente vento perpendicular me expulsam para um bar, em busca de me esquentar um pouco, claro. A parte interna do estádio é menos fria.

Faltando 10 minutos para o jogo começar, volto para meu assento especifico, numero 63, fila 20. E neste meio tempo até o apito inicial já era anunciado que teria que conviver pelo menos por uma hora e meia com a minha já companheira tremedeira. E cada vez era mais frio, olhava para os lados em busca de auxilio, de um cachecol à venda, qualquer coisa! E no auge dos tremeliques, alguém bate no meu ombro e quando olho para trás estava a Deni (minha prima que já me salvou de vários apuros aqui no velho continente) me dizendo:

- Toma esta polar (um casaco muito grosso) Renan, num disse pra você trazer menino!

Não!

Era só uma alucinação hipotérmica, senão visual, imagística por certo.

O jogo está para começar, entram varias crianças para balançar a tradicional bola do tamanho do circulo central do campo, símbolo do campeonato que estava sendo disputado. Quando os times entram em campo, e surge no sistema de som a musica da Champions league, todos se erguem, batem palmas, e, neste momento, me arrepio dos pés à cabeça, e posso afirmar com toda a certeza do mundo: desta vez, não era de frio!

Os times se alinham, se cumprimentam, tiram fotos e começam a partida. O jogo é bom, muito movimentado, disputado e de altíssimo nível técnico, como não poderia deixar de ser. No intervalo, senti inveja de algumas crianças que brincavam com garrafas de plástico transformadas em bola. Gostaria muito de ter 8 anos de idade neste momento para poder correr e esquentar meu corpo sem parecer um maluco! Caminhei um pouco e pensei que correr sim, mas ficar subindo e descendo todos os lances de escada até o ultimo bar não seria tão estranho assim...

Entao, assim o fiz! Até a hora de voltar à minha cadeira.

O segundo tempo ia começar, e, confesso, se não fosse tão apaixonado por futebol e se aquele não fosse um momento tão especial para mim teria dito: “e lá vamos nós, para mais 45 minutos de sofrimento!”. O jogo continua num ritmo forte, no entanto, com as duas equipes já classificadas para a próxima fase falta um pouco de ímpeto em busca do gol, que chega, dos pés de Rooney, mas é anulado. Cristiano Ronaldo acerta uma bola no travessão, o Villareal tem bons ataques e um jogador expulso no final.

Enfim, termina 0 x 0, porém, o mais emocionante de todos que já vi. Senão pelo jogo em si, por toda a magia que estava agregada àquela experiência.

É hora de ir embora, só que: para onde? E... Como?

Pergunto para uns caras onde ficava a estação e se ainda havia algum trem para Castellon. O primeiro espanhol me aponta uma direção e diz que não sabe se ainda há trem, Os outros dois que estão com ele me apontam a direção contrária e garantem que não há mais trens, teria... que pegar um taxi!

Pego então a direção que os dois me indicaram e sigo em frente... Depois de vinte minutos de caminhada, já não tenho mais ninguém por perto, os carros se foram, as pessoas tomaram seus destinos e lá estava eu caminhando. Quando encontrava alguma alma na rua perguntava para ver se estava indo na direção correta, então me orientava. E seguia caminhando... Embora, neste momento já tivesse certeza que não estava indo para a mesma estação que cheguei, mas não importava... A única coisa que sabia é que não poderia ficar parado.

Dobrei numa esquina e encontrei um grupo de cinco ingleses que falavam e cantavam sem parar, num determinado ponto eles entraram num carro e se foram e eu continuava a andar. Estava caminhando numa cidade que nunca havia pisado, sem ninguém nas ruas, depois das 23:00hs, num pais estranho que não fala a minha língua, sem saber para onde, e pior: sem saber para quê! Já que não haveria mais trens. Juro que se houvesse alguma movimentação nas ruas, alguns bares teria passado a noite por lá mesmo... E de manhã, quando os trens voltassem eu voltava também. Mas não havia nada, um pé de gente...

Enfim, chego à estação, e intrigantemente era sim, a mesma da qual havia desembarcado na vinda... Só não entendia porque demorei 20 minutos para chegar ao estádio e uma hora para voltar... Se eu fosse como meu irmão, branco e dos olhos claros, seria capaz de apostar que os tais dois espanhóis lá de trás pensaram que eu era inglês e me sacanearam, mas isto também não importava, o protagonismo desta historia está longe de ser esta caminhada, afinal já estou acostumado.

Chegando à estação, agora sim, algumas dezenas de pessoas se encontram. Olho os horários dos trens e, realmente, não há mais, porém mesmo assim pergunto ao homem da bilheteria que me diz que ainda há um, ultimo, que sairia em menos de 5 minutos, provavelmente uma linha extra devido ao jogo.

Compro o bilhete, e vou esperar o salvador. Quando o trem chega, mais parecia que estava chegando a delegação do Manchester, pois os inúmeros ingleses acordaram e começaram a cantar “Manchester Lalalala, Manchester”...

O trem pára, e todos entramos...

Agora, rumo a Castellón no final de um dia especial...

Se me perguntam se tenho fotos... Do estádio, do campo, dos jogadores, dos prédios de Villareal, do trem, ou uma foto minha na frente do estádio com uma mao no bolso esquerdo e a outra fazendo o sinal da paz, ou um hangloose...
Respondo que não as tenho, pois não tenho maquina fotográfica...
...
Na verdade...

A tenho...

Pois tenho minhas mãos para me expressar através deste fantástico conjunto de signos criados pelo homem chamado de palavras...

E tenho a melhor de todas as máquinas de fazer fotos... A única que não falta a nenhum homem ou mulher independentemente do seu poder aquisitivo e do seu grau de instrução. Aquela que ajuda o homem a escrever a história e entender um pouco daquilo que foi, e daquilo que é. A única que tem espaço de gravação ilimitado e inapagável, a não ser com a morte (e há quem diga que nem com ela...)

Eu possuo a melhor de todas as máquinas, a que tira as melhores de todas as fotos:

A memória.


OBS: A história de largar a noiva foi brincadeira! hauahuah

domingo, 23 de novembro de 2008

Valência x Sporting Gijón



O que um freqüentador dos estádios alagoanos poderia esperar de um estádio europeu?
Muita coisa!
Esperava muita coisa sentado no banco onde o dinheiro do espetáculo futebolístico está depositado, esperava muito do mundo para onde são sugados com uma fome imensurável todos os bons jogadores que nascem em meu país.
Esperava muita coisa e, devo confessar:
fiquei esperando!

Depois de Itália e Inglaterra, a Espanha tem o campeonato mais forte da Europa. Devido aos significativos investimentos e a visibilidade mundial, imaginei uma série de coisas que não vi.

O estádio Mestalla, por fora, não tem nada de exuberante. É um grande estádio, mas sem nenhum atrativo visual em sua forma e/ou acabamentos. Surpreendeu-me o estádio não ter, digamos, uma entrada, uma fachada especifica que atraísse os olhares e fosse o principal portal, o elo entre o templo do futebol e o publico. Os pedestres passam pelo estádio, o circulam e a única coisa que conseguem ver são toneladas de concreto, banners gigantes dos patrocinadores e portas fechadas. Nenhuma loja do Valência, nenhum mascote, nenhum esboço de instalações do clube. Isto, também, porque o Mestalla não é a sede do Valência, que possui uma sede uma pouco mais afastada da cidade, onde ocorrem os treinamentos e onde o time “b” joga a terceira divisão do campeonato espanhol.

O Mestalla foi inaugurado em 1923, passou por reformas e hoje tem capacidade de receber até 55.000 expectadores. Abrigou jogos da Copa do mundo de 1982, e das olimpíadas de 92. É um estádio completamente inserido no tecido urbano, varias instituições o cercam, inclusive alguns prédios da universidade de Valência. Há espaço para estacionamento, mas não o suficiente, nos estacionamentos imediatamente próximos ao estádio carros estacionam em fila dupla, o que não deixa de ser comum por aqui.

Por dentro, é um estádio imponente, grandioso, porém sem grandes atrativos também. Possui vários “pontos cegos”, o espaço de circulação das arquibancadas é pequeno e as cadeiras estão mal conservadas. Por outro lado a iluminação é muito boa, o gramado parece estar em perfeitas condições e o acesso e saída de torcedores acontecem numa velocidade impressionante, as amplas circulações externas e o grande número de acessos permite isso.

Embora a impressão técnica não tenha sido boa, a emoção de ver e entrar em um estádio europeu não deixou de ser fascinante e inesquecível. Pude chegar mais de uma hora antes do jogo começar e, então, sentir o seu clima, a rivalidade entre as torcidas, os cânticos, a cerva pré-jogo e tudo que se tem direito.

E por fala em torcidas, o que dizer delas?

Bem, a do Sporting gijon, ensandecida, gritava do lado fora e gritou todo o jogo, o que logo de cara me fez sentir uma simpatia por aqueles abnegados que viajaram cerca de 8 horas de trem para estarem ali. Ao final do jogo, com a vitória para contar no regresso e com alguns litros de cerveja circulando no organismo, os espanhóis do norte caminhavam descamisados num frio onde eu fazia todos os esforços para não deixar uma mísera parte do meu corpo ao léu.

Já a torcida do Valencia, embora tão agasalhada quanto eu, era tão fria quanto à noite valenciana. Somente 2 grupos do que eles chamam aqui de torcida organizada faziam algum barulho, os restantes só esboçavam um ou outro “uhh” quando o ataque ameaçava alguma coisa. E, devo descontar, coitados, não tiveram muitos “uhs” para soltar, pois o adversário jogava mais e logo abriu o placar.

Foi a primeira vez que vi um jogo em que dentro de campo havia mais estrangeiros que brasileiros, e, além disso, o único brasileiro que tinha em campo era mais um daqueles que os espanhóis não conseguem pronunciar seu nome direito, seu nome?

Renan!

Bom, quanto aos estrangeiros da arquibancada nem preciso comentar… e se quase todos eram estrangeiros chego à conclusão que nenhum deles na verdade, e obviamente, o era. Eu era o estrangeiro! Portanto, esqueçam esta historia de “foi a primeira vez…” Permanece tudo igual!

O mais interessante de todo este dia foi ter percebido que a bagunça...
tá, vamos chamar de “caos”, para soar mais eloqüente, o caos é um dos charmes do Brasil. Na sociedade européia onde as coisas são, em geral, mais organizadas, onde os motoristas respeitam a faixa de pedestres e os sinais de transito, a muvuca de centenas ou milhares de carros buscando uma vaga para estacionarem, passando sobre calçadas, parando em fila dupla, e toda aquela energia como a de partículas que se chocam quando são aquecidas possui um intrigante atrativo. A cidade parece mais viva, a taquicardia de um quase atropelamento por uma bicicleta possui um componente excitatório que nenhuma travessia sobre uma faixa de pedestre desobstruída pode despertar.

Dentro do estádio alguma coisa faltava. Faltavam os gritos, os xingamentos, os insultos à torcida adversária, faltava o sentimento de guerra mimética entre os torcedores rivais, o sentimento de que o duelo das arquibancadas é também um componente do espetáculo do futebol. A mãe do juiz não foi xingada uma única vez, imaginem se isto é coisa que se faça com o pobre símbolo de Judas em todas as partidas de futebol, de decisão de copa do mundo às peladas de campos de terra batida que tem um homem correndo com um apito na boca. Confesso que quase a xingo, só para que ela não se sentisse esquecida.

O jogo foi muito bom, 5 gols, vários lances bonitos, fruto de um futebol onde grandes atletas estão atuando, incluindo muitos brasileiros. Acabou com a vitória do time visitante, por 3 x 2, e com certa satisfação da minha parte, é preciso dizer.

Se durante o jogo as torcidas não deram espetáculo, depois do apito final, eis que ambas mereceriam aplausos. E mereceriam pelos seus próprios aplausos. A torcida do Valência aplaudiu o seu time e logo após, aplaudiu também o time adversário, e foi além, aplaudiu a torcida adversária. E não parou por ai, a torcida visitante em coro, o mais organizado e forte de todos os 90 e tantos minutos, gritou o nome do time da casa, e logo após, a recíproca impressionou. Uma emocionante demonstração de respeito ao adversário (eles são clubes simpatizantes).

Se por um lado falta aos torcedores espanhóis um pouco da energia dos brasileiros, a estes faltam limites! Saber que a guerra entre as torcidas é só simbólica, é só um faz de conta, que todos têm o direito de escolher o time para o qual vão torcer…

Mas quem não torce pelo GALO eu quero mais é que

V#@=¿%ª”#€$@@




Obs: O Valência está construindo um novo Mestalla, que promete ficar muito bonito e ser um dos mais modernos da Europa. O atual estádio será demolido... (Sou mais o Trapichão)

O covil dos gringos

Sabe aquelas figuras que quando você vê pelas ruas ou praias de alguma cidade do Brasil e logo constata: “Olha o gringo”

Pois é, aqui é cheio deles. E todos eles são muito eruditos, não há um sequer que não fale uma língua estrangeira: italiano, russo, inglês...

No mínimo um espanhol...

Descobri o covil dos gringos!

A mistura de tudo em tudo

Em um pais onde a figura mais importante é um Rei. A guerra de sua longiqua história de vitórias e derrotas na busca por conquistas territoriais e poder no velho continente ainda se faz presente.
Agora, no entanto, a guerra é desarmada e conquistadores e conquistados parecem tender a se misturarem cada vez mais.

Os “conquistadores”, como antes, são o que chamavam os romanos antigos de “bárbaros”, os habitantes de regiões além das muralhas e torres deste lugar, agora representadas por linhas imaginárias e regras de controle de imigrantes, respectivamente.

Os imigrantes buscam espaço, em todos os sentidos. E o número deles é grande, e tende a crescer, consequentemente eles construirão também, e já o fazem, a história deste país.

E não é só neste ponto que “antes” e “depois” se misturam. Através do trem, percorrendo o caminho de Valência a Castellón, cercado de centenas de milhares de pés de laranja, se pode ver um ícone desta realidade. A paisagem mostra, no plano, uma grande quantidade de gruas, que não param de trabalhar (na verdade agora estão paradas devido à crise econômica mundial), construindo a modernidade, enquanto ao fundo e acima, no alto de uma montanha, se impõe uma fortaleza do antigo império romano do ocidente, viva, como se fora feita por alguma daquelas gruas.

Uma montanha murada em toda a sua extensão diametral, com torres de observação, nichos para arqueiros, canhões e toda a sorte de artefatos de defesa. É possível até imaginar a presença de arqueiros se posicionando em direção ao observador.

A impressão que se tem é que o tempo perde a sua linearidade, a lógica de “antes” e “depois” se confundindo numa mesma realidade.

Logo no aeroporto de Maceió...

...uma situação inusitada. Já depois de ter me despedido de todos os que me acompanharam até o aeroporto e entrado na área de embarque, faltando 10 minutos para o avião sair, o anúncio: “Vôo 2209 cancelado, manutenção imprevista na aeronave!”. Obviamente aquele anúncio pouco me afetou, pois eu não sabia o numero do meu vôo mesmo. Esperei os 10 minutos e quando a porta de acesso aos aviões se abriu lá fui eu mostrar meu bilhete e a moça da entrada me diz: “seu vôo foi cancelado, você tem que descer ao chek in”.

Claro, mesmo não sabendo o número do meu vôo, deveria ter suspeitado que seria o meu, como poderia ser diferente?

Enfim, descem os passageiros, os “trouxas” segundo o nativo do nosso ex-destino (São Paulo). Lá embaixo o funcionário da TAM aparece e anuncia a sentença: "vôo cancelado e transferido para meio dia" (quando deveria sair as 2:40 da manhã), "taxi e hotel por nossa conta!" – imaginem a nossa cara de felicidade... Taxi e hotel...

Os tais trouxas, no meio dos quais eu estava inserido, se amontoavam ao redor do pobre funcionário da Cia aérea. Tenho quase certeza que alguém que passasse neste momento pelo segundo piso do aeroporto e tivesse uma vista aérea daquela cena teria a clara impressão de que ali se estava jogando uma partida de futebol americano, e o tal funcionário estava segurando a bola com todas as suas forças, embora estivesse louco para arremessá-la tão longe quanto pudesse.

No entanto, em alguns segundos a imagem passou de futebol americano para quebra de bolsa de valores, cada um dos "trouxas" argumentava o porquê não poderia permanecer ali até o meio dia, nem tampouco se sentiam compensados por um taxi e uma diária de hotel a mais na cidade do mar azul piscina.

Entre inúmeras vozes que se podia ouvir, uma ou outra se destacava ou pelo nível de dramaticidade ou pelo nível de altura.

A primeira a obter destaque foi a de um escrivão alagoano, que havia, segundo ele, juntado dinheiro por três anos, para realizar um sonho: assistir a uma corrida de Fórmula 1 em Interlagos. Havia pagado R$ 2.800,00 em um ingresso, dado 3 plantões seguidos para conseguir os dias de folga necessários para ir a SP e voltar. Neste ano, realizaria seu sonho, assistiria a corrida, e mais, assistiria a última corrida do ano, em que um brasileiro, pela primeira vez na história, poderia ser campeão no Brasil.

Realizaria seu sonho…

até ser transformado em trouxa!

Com o vôo saindo meio dia, chegaria a Cumbica (que fica do outro lado da cidade, em relação a Interlagos) às 16:00 mais ou menos, devido ao horário de verão (a viagem duraria por volta de 3hs), e a corrida começaria às 15:00.

Uma senhora também conseguiu destaque na multidão. Viajava com 3 filhos adolescentes, ambos dependentes químicos e sob efeito de fortes medicamentos, tinham uma consulta marcada para 8:00 da manhã. Seriam internados logo depois. As vagas na clínica, muito difíceis de conseguir, já estavam reservadas.

Neste momento, suspeito que os tais remédios começavam a fazer efeito (ou a perder), pois os moleques começavam a agir de forma estranha. Ou estavam sofrendo de algum efeito colateral, ou de alguma síndrome de abstinência, ou ainda faziam parte de um grupo de atores que já estavam de saco cheio de Maceió e montaram prontamente um espetáculo. Para nos fazer de trouxas, por conseguinte… mais do que já éramos…

Um casal, mais ao canto, quase chorava, diziam que tinham conseguido uma vaga em um curso que só acontece de 5 em 5 anos. Eles teriam que chegar a SP, pegar um ônibus, e depois um barco, específico para levar os participantes do curso, e exclusivo, pois não existiria, segundo eles, transporte para a região que aconteceria o curso, e que, obviamente, não esperaria 5 horas os trouxas atrasados. Mais uma vez, ou estes dois estavam realmente em apuros, ou tínhamos nem uma partida de futebol, nem um quebra de bolsa, mas sim uma conferência de atores.

- Tenho trabalho!
- Tenho escola
- Tenho filhos
- Tenho fome
- Tenho vontade de matar esse engravatado que não resolve nosso problema

Enquanto tudo isso acontecia, uma estudante de direito anotava tudo o que via e ouvia, pedia documentos impressos emitidos pela Cia aérea, solicitava assinaturas, mas caindo em falácia advertia: “não adianta entrarmos com processo nenhum. Não se ganha nunca!” Assim, segundo ela, disse seu professor.

E a minha voz, era quase muda, tamanha a incredulidade de estar passando por aquela situação. Só falava em pé de orelha com algum funcionário explicando meu caso e buscando solução. Teria conexão internacional de SP para Roma, e com o vôo saindo ao meio dia eu a perderia…

Mas, sem dúvida, a voz que mais chama atenção é a de um senhor, que para ser melhor visto e ouvido sobre no balcão de Check in, e entre lágrimas e gritos, esbraveja: “meu pai está morto!” “estou indo para seu enterro! Alguém pode entender isso?” “MEU PAI SERÁ ENTERRADO ESTA MANHÃ! NÃO TENHO O DIREITO DE ME DESPEDIR DELE?”



A voz deste homem foi tão forte que conseguiu calar todas as outras.

Silêncio…

Diante desta cena, os problemas de cada um pareciam não ser mais tão grandes assim e muitos começaram a aceitar a proposta de passar a noite em Maceió, outros, que moravam na cidade, foram se retirando, a situação foi se acalmando, a senhora que passava mal já estava melhor, a fila que os trouxas eram obrigados a pegar para retirar o ticket do taxi e hotel foi eliminada com outro balcão exclusivo e assim se foi…

O problema para estes, agora, era pegar o taxi, pois os poucos taxistas que estavam no aeroporto ou se escondiam sabe-se lá deus onde, ou se negavam a levar os, agora, ainda mais trouxas. Isto porque a TAM só paga estes serviços de 30 em 30 dias, então para eles não era muita vantagem.

A solução, finalmente, foi o surgimento, sabe-se lá também deus de onde, de um ônibus, que levou quase todos de uma só vez.

Por fim, as vozes que falaram mais alto, incluindo aquela que calou todas as outras e excetuando o alagoano escrivão, conseguiram ser encaixadas em algum vôo.

Sobraram então, no aeroporto, eu e os dois ex-futuros expectadores do Grande prêmio do Brasil, o alagoano e um paulista, que voltaria a sua aterra, mas não ao circuito de Interlagos

nem tão cedo.

O Grande prêmio do Brasil, para nós, era a bagunça do seu sistema de transporte aéreo...

Ainda no aeroporto...

Comi, pela segunda vez no mesmo dia, no BOB’s (cortesia da CIA aérea, vejam só) e devo confessar que minhas papilas gustativas não recepcionaram muito bem aquela redundancia de codimentos industrialescos e, em solidariedade, meu estômago também chiou.

Arrisquei um cochilo numa das mesas de lanche. Pernas sobre a mala, cabeça sobre a mochila. Assim, só me roubariam se me levassem junto, e certamente se me levassem a Cumbica, não precisariam nem fazer força.

Estava decidido a permanecer no aeroporto o tempo que fosse preciso para conseguir me encaixar em algum vôo antes de meio-dia e, desta forma, não perder a conexão internacional.

Por volta das 8:00 da manhã, pouco mais de 7 horas depois de ter chegado no aerorporto, desci e descobri que havia um vôo fretado por uma empresa de turismo saindo para SP às 09:45. Neste momento já havia me perdido dos meus companheiros admiradores da F1. Um deles, o baiano, que mora em Alagoas (ele, na verdade, não era alagoano), só devia escutar o ronco dos motores em sua mente impaciente (pois já havia tentado todas as maneiras de chegar em SP a tempo, inclusive pegar um carro até recife e de lá voar até Cumbica, mas nenhum sucesso). Gritos de “É Campeão” e “Vai Felipe Massa” deviam assombrar a sua imagística e dupla esperança. O outro, o paulista, voltava a sua terra e, ironicamente, mais pensava na sua cama do que no camarote, para o qual havia ganhado o convite.

Me dirijo, então, ao guichê da TAM, explico minha situação e solicito um encaixe naquele vôo, já que embora fretado, o avião era de sua propriedade. Logo, os dois ferraristas aparecem, nos tornando, agora, três solicitantes. A Cia anunciou, em contrapartida, que poderia haver justamente 3 vagas naquele vôo, pois 3 turistas não haviam confirmado a reserva. Caso eles não aparecessem até às 9:00hs, nós teríamos transporte para chegarmos em SP.

A partir daí, só nos restava torcer para que os tais turistas não aprecessem. Nem um, pois a esperança agora não fazia mais sentido individualmente ou, pelo menos, perdia grande parte de sua profundidade. A esperança era coletiva!

Cada pessoa que entrava no hall do aeroporto aumentava um pouquinho os batimentos cardíacos de cada um de nós, cada passo em direção ao check in era um frio na espinha. E, enquanto isso, os ponteiros do relógio se moviam como num final de jogo em que o CRB ganha por um perigoso 1 x 0 e ainda é pressionado pelo adversário (o que ultimamente tem sido raro, não ser pressionado, mas estar ganhando): numa lentidão de conta-gotas, em um suspense digno de hitchcock.

08:55

Estávamos os 3 em frente ao check in

08:56

Implorando para que o relógio andasse mais rápido

08:57

A funcionária pergunta ao seu superior: “posso liberar o embarque dos 3?”

08:58

Nossas malas passam pelo check in

08:59

Três pessoas se aproximam do guichê da TAM... nós três nos olhamos, aflitos, a funcionária da TAM olha para as pessoas que fazem uma pergunta. Ela nos olha de volta com uma expressão estranha...
Ela não havia entendido a pergunta, pede que os turistas repitam...
O mais velho se aproxima e pergunta de novo: “Donde se puede alquillar un coche?”

09:00

Embarcamos!

Chegada em Cumbica e Roma

Chego em Cumbica e já é quase a hora do check in do vôo para Roma, vou pegar minha mala o mais rápido possível, porém não tão rápido quanto os dois figuras com destino a Interlagos - o paulista tinha sido contaminado pelo espírito do baiano/alagoano e agora era ele quem apressava o nordestino.

Faltam cerca de 50 minutos para a corrida começar. Será que eles chegam a tempo de ver a largada? Um conhecido uma vez me disse que quando se perde a largada de uma corrida se perde tudo, e não há mais porque assistir o resto.

Pelo menos por hora, nos falamos pela última vez, com uma certa expressão de felicidade, por termos conseguido chegar em SP a tempo.

- Sorte, eu disse!
- Sucesso, eles replicaram...

No check in, várias figuras pitorescas: gringos com cara de “eu sou gostoso”, moleques com firulas na cabeça com cara de “eu sou panaca”, chapéus só na tampinha da cabeça, meninas com cara de meninos e um nordestino: Eu!

Quando entro na sala de embarque me vejo numa feira de griffs famosas. Peças de roupas e acessórios para todos os lados e um perfume de fazer inveja a qualquer propaganda do “Avanço”!

O avião? Grande como imaginava, mais impressionante do que previa.

Neste momento, no saguão de embarque, assisto um pedaço da corrida junto com outros caras que provavelmente também torciam para Felipe Massa, pois o avião ia para a Itália, casa da Ferrari. O brasileiro estava em primeiro, Hamilton em 6º. Tentei imaginar a expressão dos meus companheiros de peregrinação aérea, mas não pude. Não sabia se eles haviam conseguido chegar, e o sistema de som anunciava que o embarque deveria ser feito agora.

Quando entro no avião, acostumado com o Maceió/São Paulo – Via Belo horizonte, me surpreendo com o cenário de filme americano, daqueles em que o avião é seqüestrado e o presidente acaba sendo o herói no final. Bom, mas que as semelhanças ficassem apenas na imagem parecida senão estávamos todos perdidos, pois imagino que o presidente não estava a bordo.

Não teríamos nenhum discurso patriota do líder da república americana, mas em compensação temos um coral de italianos reclamando de qualquer coisa ao meu redor (na verdade não entendia nada que estavam falando, mas tenho certeza que reclamavam), e ao sentar na minha poltrona, já me sentia fora de casa.

A comissária de bordo dá todos os avisos necessários em inglês, italiano e português, mas de Portugal, ora pois!

Por falar em italiano, vou buscar entender porque os italianos tem uma protuberância tão exagerada no meio do rosto e porque insistem em chamar aquele monumento natural de nariz. Todos parecem ser originários de uma mesma família, a de Gianluca Pagliuca, o goleiro da seleção italiana que PERDEU para o Brasil em 94 AHAHAHAHAHAAHAH! Posso rir, mangar e até xingá-los que eles não entenderiam mesmo!!

Com menos de meia hora de vôo, passam os comissários oferecendo um lanche (bem melhor do que o amendoin com cereal da Gol, embora não saiba bem até agora o que comi), pouco tempo depois vem o jantar, a única coisa que entendo é a oferta: - “Carrne ou péixeh?”, torço a cara e digo: -Carne, mas acho que carne e peixe significam outras coisas em italiano, ou então os comissários perceberam que eu era brasileiro, se lembraram da copa de 94 (talvez sentindo telepáticamente que havia caçoado deles no começo da viagem) e quiseram sacanear comigo, pois não identifiquei do que seria feita aquela comida, também, pudera, as únicas comidas italianas que conheço são: pizza, nhoque e macarronada! Enfim, comi todo aquele aparato anti-fome, e se soubesse que só viria aquilo até o final da viagem teria, mesmo contra a minha própria vontade, pedido bis.

A viagem é longa! Longa... loooonga!!! São quase 10 horas de vôo.

Percebo, olhando o mostrador no vídeo à frente da minha poltrona que localiza o avião no globo terrestre, que 6 horas desta minha odisséia foram completamente nulas, 3 horas de Maceió/SP e mais 3 SP/Maceió, pois via no mostrador, o avião voltando para minha cidade, porém desta vez, passava direto, e sem cancelamento de vôo, corrida de fórmula 1 etc e tal...

Eu, que ao viajar para o sul do Brasil, reclamava que Bahia e MG pareciam intransponíveis tamanha a demora para atravessá-las, agora tinha noção do que é, realmente, uma distância parecer invencível: o Norte da África, incluindo o deserto do Saara. O avião voava a mais de 1000 km/h e, no entanto, mal se movia no mapa africano.

Enfim, o anúncio de apertar os cintos, o piloto não havia sumido, chega de filmes (assisti uns 3 ao longo da viagem): iríamos pousar.

Algo de extremamente emocionante me ocorreu depois de meu ouvido se cansar de zumbir pela pressão da aterrissagem: as luzes da cidade eterna.

Me senti estranho, deslocado, como participando subitamente de um filme cujo o qual só via pela TV. Não pude ver nenhuma forma muito definida, só ruas, luzes e carros, e se não fossem pelos últimos, poderia me imaginar, como Marty Mcfly, fazendo uma viagem no tempo.

Praticamente só foram luzes o que vi, mas eram luzes diferentes, eram as luzes do berço da civilização moderna. A terra do Coliseu e dos grandes guerreiros, dos deuses e da arte renascentista.

Eu, e Roma...

Já fomos apresentados, de longe...

Em breve, nos conheceremos pessoalmente.

Conquistar

Não costumo escrever em primeira pessoa, mas desta vez não posso escapar da necessidade de fazê-lo.

Para pôr os pés pela primeira vez fora do meu país, tive varias experiências e hoje, na hora do embarque, a mais importante delas, até então, e ela, apertou meu peito, e escorreu dos meus olhos.

Senti, talvez da forma mais intensa até hoje, o quanto é importante cultivar amizades. Conquistar as pessoas e se deixar ser conquistado por elas.

Aprendi o quão pode ser profundo o gesto de se bater o punho cerrado no peito esquerdo acentuado por um sorriso sincero, e que, às vezes, vale mais uma palavra do que mil imagens, e que uma palavra bem dita não precisa necessariamente ser bem escrita.

Minha família e amigos, hoje, me fizeram sentir especial, e mais do que isso, me fizeram sentir que posso ser um pouco mais otimista em relação à condição da existência humana.

Que podemos, sim, fazer um mundo melhor.

Basta que queiramos

E conquistemos.

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