O que um freqüentador dos estádios alagoanos poderia esperar de um estádio europeu?
Muita coisa!
Esperava muita coisa sentado no banco onde o dinheiro do espetáculo futebolístico está depositado, esperava muito do mundo para onde são sugados com uma fome imensurável todos os bons jogadores que nascem em meu país.
Esperava muita coisa e, devo confessar:
fiquei esperando!
Depois de Itália e Inglaterra, a Espanha tem o campeonato mais forte da Europa. Devido aos significativos investimentos e a visibilidade mundial, imaginei uma série de coisas que não vi.
O estádio Mestalla, por fora, não tem nada de exuberante. É um grande estádio, mas sem nenhum atrativo visual em sua forma e/ou acabamentos. Surpreendeu-me o estádio não ter, digamos, uma entrada, uma fachada especifica que atraísse os olhares e fosse o principal portal, o elo entre o templo do futebol e o publico. Os pedestres passam pelo estádio, o circulam e a única coisa que conseguem ver são toneladas de concreto, banners gigantes dos patrocinadores e portas fechadas. Nenhuma loja do Valência, nenhum mascote, nenhum esboço de instalações do clube. Isto, também, porque o Mestalla não é a sede do Valência, que possui uma sede uma pouco mais afastada da cidade, onde ocorrem os treinamentos e onde o time “b” joga a terceira divisão do campeonato espanhol.
O Mestalla foi inaugurado em 1923, passou por reformas e hoje tem capacidade de receber até 55.000 expectadores. Abrigou jogos da Copa do mundo de 1982, e das olimpíadas de 92. É um estádio completamente inserido no tecido urbano, varias instituições o cercam, inclusive alguns prédios da universidade de Valência. Há espaço para estacionamento, mas não o suficiente, nos estacionamentos imediatamente próximos ao estádio carros estacionam em fila dupla, o que não deixa de ser comum por aqui.
Por dentro, é um estádio imponente, grandioso, porém sem grandes atrativos também. Possui vários “pontos cegos”, o espaço de circulação das arquibancadas é pequeno e as cadeiras estão mal conservadas. Por outro lado a iluminação é muito boa, o gramado parece estar em perfeitas condições e o acesso e saída de torcedores acontecem numa velocidade impressionante, as amplas circulações externas e o grande número de acessos permite isso.
Embora a impressão técnica não tenha sido boa, a emoção de ver e entrar em um estádio europeu não deixou de ser fascinante e inesquecível. Pude chegar mais de uma hora antes do jogo começar e, então, sentir o seu clima, a rivalidade entre as torcidas, os cânticos, a cerva pré-jogo e tudo que se tem direito.
E por fala em torcidas, o que dizer delas?
Bem, a do Sporting gijon, ensandecida, gritava do lado fora e gritou todo o jogo, o que logo de cara me fez sentir uma simpatia por aqueles abnegados que viajaram cerca de 8 horas de trem para estarem ali. Ao final do jogo, com a vitória para contar no regresso e com alguns litros de cerveja circulando no organismo, os espanhóis do norte caminhavam descamisados num frio onde eu fazia todos os esforços para não deixar uma mísera parte do meu corpo ao léu.
Já a torcida do Valencia, embora tão agasalhada quanto eu, era tão fria quanto à noite valenciana. Somente 2 grupos do que eles chamam aqui de torcida organizada faziam algum barulho, os restantes só esboçavam um ou outro “uhh” quando o ataque ameaçava alguma coisa. E, devo descontar, coitados, não tiveram muitos “uhs” para soltar, pois o adversário jogava mais e logo abriu o placar.
Foi a primeira vez que vi um jogo em que dentro de campo havia mais estrangeiros que brasileiros, e, além disso, o único brasileiro que tinha em campo era mais um daqueles que os espanhóis não conseguem pronunciar seu nome direito, seu nome?
Renan!
Bom, quanto aos estrangeiros da arquibancada nem preciso comentar… e se quase todos eram estrangeiros chego à conclusão que nenhum deles na verdade, e obviamente, o era. Eu era o estrangeiro! Portanto, esqueçam esta historia de “foi a primeira vez…” Permanece tudo igual!
O mais interessante de todo este dia foi ter percebido que a bagunça...
tá, vamos chamar de “caos”, para soar mais eloqüente, o caos é um dos charmes do Brasil. Na sociedade européia onde as coisas são, em geral, mais organizadas, onde os motoristas respeitam a faixa de pedestres e os sinais de transito, a muvuca de centenas ou milhares de carros buscando uma vaga para estacionarem, passando sobre calçadas, parando em fila dupla, e toda aquela energia como a de partículas que se chocam quando são aquecidas possui um intrigante atrativo. A cidade parece mais viva, a taquicardia de um quase atropelamento por uma bicicleta possui um componente excitatório que nenhuma travessia sobre uma faixa de pedestre desobstruída pode despertar.
Dentro do estádio alguma coisa faltava. Faltavam os gritos, os xingamentos, os insultos à torcida adversária, faltava o sentimento de guerra mimética entre os torcedores rivais, o sentimento de que o duelo das arquibancadas é também um componente do espetáculo do futebol. A mãe do juiz não foi xingada uma única vez, imaginem se isto é coisa que se faça com o pobre símbolo de Judas em todas as partidas de futebol, de decisão de copa do mundo às peladas de campos de terra batida que tem um homem correndo com um apito na boca. Confesso que quase a xingo, só para que ela não se sentisse esquecida.
O jogo foi muito bom, 5 gols, vários lances bonitos, fruto de um futebol onde grandes atletas estão atuando, incluindo muitos brasileiros. Acabou com a vitória do time visitante, por 3 x 2, e com certa satisfação da minha parte, é preciso dizer.
Se durante o jogo as torcidas não deram espetáculo, depois do apito final, eis que ambas mereceriam aplausos. E mereceriam pelos seus próprios aplausos. A torcida do Valência aplaudiu o seu time e logo após, aplaudiu também o time adversário, e foi além, aplaudiu a torcida adversária. E não parou por ai, a torcida visitante em coro, o mais organizado e forte de todos os 90 e tantos minutos, gritou o nome do time da casa, e logo após, a recíproca impressionou. Uma emocionante demonstração de respeito ao adversário (eles são clubes simpatizantes).
Se por um lado falta aos torcedores espanhóis um pouco da energia dos brasileiros, a estes faltam limites! Saber que a guerra entre as torcidas é só simbólica, é só um faz de conta, que todos têm o direito de escolher o time para o qual vão torcer…
Mas quem não torce pelo GALO eu quero mais é que
V#@=¿%ª”#€$@@
Obs: O Valência está construindo um novo Mestalla, que promete ficar muito bonito e ser um dos mais modernos da Europa. O atual estádio será demolido... (Sou mais o Trapichão)
oww deliica de viagem né?
ResponderExcluirdesejo sorte e sucesso pra vc.
E q nunca se prenda, continue firme, forte e caminhando.
beijo grande
Eita... hauhauhauhah adorei o detalhe "Sou mais o trapichão"!
ResponderExcluirUm misto de alegria e inveja de sentir um pouco do q vc ta sentido agora!
Ô saudade de tu depois q eu li isso aqui!!
BjSs